Jovens Surtam em Escola e Jornalistas Não Resistem ao Êxtase da Psicologia Coletiva

Uma visão generosa sobre o estranho caso de uma escola em Recife, sem compromisso com a ciência.


Estranho é você.


No último dia 08 de abril, um grupo de 26 estudantes sofreu uma espécie de surto coletivo em uma escola estadual em Recife.

Por mais inusitado que pareça, não é a primeira vez que acontece. No Brasil, em 2019, uma escola do Piauí viu alunos desmaiando coletivamente, após boatos de que haviam espíritos de ex-alunos mortos atacando os jovens. Essa notícia, pelo menos foi mais interessante.  

Já na Inglaterra, em 2015, houve um evento parecido com 40 alunos de uma escola. Lá não tentaram colocar o sobrenatural como fonte do problema, mas todos sabemos que Hogwarts deve estar envolvida. 


Na escola estadual do Recife, os especialistas em comportamento definiram o evento como uma “crise coletiva de ansiedade”, e não demoraram a vomitar os potenciais causadores do problema nos estudantes:

01 – Não tem psicólogo na escola

Claro. O lobby da psicologia não poderia perder essa oportunidade. É o atestado da falta de capacidade de diretores e professores em manter um ambiente, no mínimo, saudável para esses carinhosos seres adolescentes.

02 – O gatilho

Talvez aí uma mensagem subliminar para demonstrar que a população precisa ser desarmada. Neste caso, o gatilho pode estar relacionado ao fato das "crianças" de 15 anos terem ficado muito tempo sem aula, e de repente, as aulas voltaram! Um horror! Causando assim um susto geral e gerando todo esse desconforto. 

Afirma-se também que a volta deveria ter sido “gradual”, algo assim, para não assustar tanto, faltou carinho.


Cenário Social Jovem 

No ano de 2005, os jovens estavam encantados com toda a tecnologia e a libertinagem da mídia, principalmente com a MTV e sua programação deseducativa de massa. Uma pesquisa, naquela ocasião, feita pela própria emissora, apontou que a palavra que definia aquela geração era “vaidade”. Constataram-se jovens que passavam mais de uma hora em frente aos espelhos antes de sair. A situação foi tratada como positiva para a maioria da sociedade, que na época não só era diariamente assaltada pelo Partido dos Trabalhadores, mas tinha seus lares invadidos pelas ideologias da indústria que hoje conhecemos como Consórcio de Informação.

Na ocasião a amostra contemplava jovens entre 14 e 20 anos. Podemos concluir que, parte daqueles jovens vaidosos e exigentes, são hoje pais. Pais de alunos que desmoronam em crises de ansiedade no ambiente escolar.

Não precisa ser gênio (nem psicólogo) para perceber que, salvo raras exceções, quem nasceu depois dos anos 90 perdeu a carruagem do discernimento. Foram alimentados pela cultura, mídia e a educação formal,  que se ofereceu como solução para os mais diversos problemas sociais, como preconceito, meio ambiente e também doenças venéreas. Os cérebros mais jovens eram infestados de ideias pelos bonzinhos defensores de minorias.

De lá pra cá, o mundo chegou ao ápice da interação tecnológica, da comunicação, da informação. Os níveis de extrema pobreza são muito menores do que há três décadas, realidades como desabastecimento (sim, de alimentos, depois o tio explica) são distantes para esses supostos depositários das nossas esperanças de um mundo melhor.  Estava tudo pronto e foi entregue pra eles, que o desprezam sem nenhuma sutileza e sempre dão preferência aos seus anseios particulares e narcisistas.

Cultura Pop

Observa-se a imensa influência da cultura pop sobre esses pobres mancebos. Ela molda o comportamento de maneira bovina, por uma simples razão: a falta absoluta de referências melhores no seu ambiente familiar, escolar ou em qualquer grupo social. Mesmo nas igrejas as referências acabam por tornarem-se infantilizadas e potencialmente destrutivas ao amadurecimento, utilizando praticamente as mesmas linguagens da cultura pop em suas abordagens.  Esse caminho só provoca o descolamento da realidade.

A realidade é para os jovens uma espécie de inimigo. Nas redes sociais, memes como “você sabe que se tornou adulto quando seu dinheiro é só para pagar boletos” são compartilhados aos montes. A responsabilidade em pagar contas é uma tortura pela qual ainda nem passaram e já sofrem. Quando chegar a hora, se ela chegar, serão rios de lágrimas por sentirem-se injustiçados. 

Outra consequência do descolamento da realidade é a adesão cadavez maior à ideologia de gênero, promovida incessantemente pela indústria do entretenimento, colocando os jovens em situações e dilemas que, claramente, não estão preparados para enfrentar. A juventude também encontrará incentivos à essa reflexão na vida acadêmica, onde são produzidos milhares de artigos sobre o tema, em bancas de graduação, mestrado e doutorado. É só procurar.

As redes sociais, em especial o Tik Tok, são uma boa amostra do nível de desprendimento do mundo real dos jovens. Afetação constante, sexualidade indefinida, sentimentalismo tóxico, desejo narcísico de aparecer e ser engraçado, vontade de chocar, auto flagelo da própria imagem, imitação de personagens esdrúxulos, linguagem ruim (bom essa não só nas redes).

O destino destes seres pode ser qualquer um. A fama efêmera de algum viral, a monetização como influencer (que não é profissão), a depressão eterna de ser incapaz de largar a vida virtual, o exibicionismo que pode levar as meninas à cama de um Gabriel Monteiro qualquer, ficar para sempre na casa dos pais tomando leite com biscoito, ou bolacha.   


Psicologia Industrial

Neste cenário, os pais, provedores de iogurte e cereais, igualmente desconexos, podem acabar recorrendo à psicologia. A psicologia apresenta-se como a saída para o preenchimento de lacunas deixadas nos relacionamentos familiares. Já ouvi bons testemunhos a respeito disso.  Mas essa é só uma ponta deste emaranhando de problemas. Pode funcionar para uns, e para outros não, tal qual a vacina contra Covid. (auto censura).  

A postura nociva do jornalismo no caso da escola no Recife está na coletivização de um problema que não deve ser tratado como coletivo. Cada aluno tem uma situação a ser resolvida. O Jornalismo adora movimentações coletivas, principalmente se envolvem patologias, pandemias e  tragédias. É normal para o jornalista médio colocar todos os atores sociais num único balaio de idiotas , e sair distribuindo receitas prontas para curar um male qualquer. E usam a psicologia para embasar soluções que só podem funcionar de maneira individual. A audiência, para eles, sempre terá o mesmo cérebro do Homer Simpson. 

E no final, todos sabemos que o que aconteceu lá na escola foi um ataque de uma menina estranha que foi humilhada no seu baile de formatura. Caso encerrado.