Qual o real poder de barganha dos professores ?

 

Uma reflexão com misto de nostalgia educativa, e nada lúdica, sobre a paralisação dos professores.

 

Amigue, vire o cartaz. Foto de Luiz Rocha UTE/MG



Alguns mil quilômetros depois do último post, agora em de Juiz de Fora – MG, obrigo-me a esta pequena contribuição para a reflexão da nossa realidade educacional.  Desde o dia 09 de março, professores da rede estadual de ensino de Minas Gerais estão em greve. A reivindicação, claro, é salarial. Os sindicatos lutam por uma reposição que deixe os valores salariais da categoria em equivalência ao Piso Nacional, o que acarretaria em um aumento de R$ 2.135,00 para R$ 3.845,00. 

Vou me abster de analisar o aumento salarial de 80% solicitado (ops, já analisei), e direcionar esse argumento para a classe dos professores, sua importância e sua relação com nossa conturbada vida de pagadores de taxas brasileiros.

 

Não entendo que professores ganhem mal. Mas concordo que bons professores, esses sim, são muito mal remunerados.  E como pagador de taxas, pai e consumidor de educação que sou,  sinto-me plenamente apto a fazer a distinção mais básica entre os que podem ser considerados Mestres, e aqueles que fizeram pedagogia, licenciatura, e somente frequentam as folhas de pagamento do Estado.

A primeira categoria dispensa apresentações. São professores que guardam sua militância pessoal na sua biblioteca particular, fecham a porta e vão propagar o conhecimento para os seus alunos. Estes não se deixam levar por abstrações rasteiras, passam o conteúdo e cobram o que foi passado. Se auto analisam e melhoram sempre.  Jamais deixarão a convicção de sua vocação ser corrompida por meras ideias de terceiros, políticos, religiosos, filósofos e principalmente os ditos guardiões da profissão.  Após passar 15 ou 16 anos em sala de aula, entre cursos, faculdades e ensino fundamental, posso contar nos dedos quantos merecem tal reverência.

A segunda categoria é a que faz as greves.  Não há muita referência sobre o que ensinam, afinal, em tempos de total desconstrução de valores, prevalece o método de ensino anárquico e  disfarçado de bom mocismo. Essa categoria aproveita-se de um certo “respeito social” que temos pela classe, e transforma a docência numa atividade recreativa e sem nexo, cheia de aspectos “lúdicos” e com muita militância político-ideológica para tentar convencer os mais distraídos de que são injustiçados por uma força cruel que os quer na miséria.

Lembro-me, saudoso, dos professores militantes de minha época de ensino fundamental. De uma grade com dez ou doze disciplinas,  três ou quatro eram mais ousados nas suas investidas revolucionárias. Porém, devo admitir, a elegância era enorme. A gramática era perfeita, o discurso era afinadíssimo, e entre um baseado e outro, em exibições de Sociedade dos Poetas Mortos,  a utopia de um mundo socialista tinha ares de poesia. Muito diferente das aberrações fabricadas nos porões das universidades de hoje, que mal conseguem esconder que acham a própria gramática opressora, excludente, e, além do baseado e discursos da luta de classes ou ideologia de gênero, nada compartilham com os alunos.

Numa percepção mais simplória, é fácil concluir que a classe dos educadores acaba totalmente maculada por esses indivíduos, que se unem, fazem barulho e acabam por tomar para si a tutela das verdadeiras reivindicações por melhores condições de trabalho, segurança e um material verdadeiramente didático, além é claro, de melhores salários.

Neste cenário, o maior poder de barganha da classe acaba sendo a revelação de sua verdadeira intenção: atrapalhar o cidadão que trabalha, e que tem na escola um lugar apropriado para deixar seus filhos. Sim, pois transformaram o ambiente educacional apenas nisso, uma espécie de creche contínua. E o pagador de taxas é obrigado a se virar para deixar filhos com alguém, levar para o trabalho, ou faltar ao trabalho. Cito também as reuniões com os pais dos alunos em horário comercial, com pouca antecedência de aviso ou nenhum aviso, e totalmente improdutivas. 

Esse é o prejuízo que é imposto aos pais. Assim como outras classes, atrapalhar a  vida do cidadão é uma maneira de se chegar ao objetivo, com prejuízo,  caos e transtorno. Exatamente como um inimigo faria a outro em tempos de guerra.   

Os desavisados podem até acreditar em algum prejuízo educacional. Não percebem, no entanto que este já é imposto diariamente, havendo greve, ou não.