A produção artística brasileira está diretamente ligada à ideologia de seus autores, ou de quem a divulga, consome ou propaga.
A atual ambientação social é um desafio para os artistas. Fala-se muito em certas obrigações sociais dos artistas, como, se em troca de alguma visibilidade, fossem todos obrigados a catequizar em favor de um lado ou de outro. O pensamento livre é deixado de lado em busca de favores esdrúxulos da mídia ou do Estado. E a arte vai ficando assim, de lado, sem conteúdo e sem sentimento.
A primeira e mais importante causa desta situação é a maneira
industrializada e comercial com que são tratados alguns segmentos. A internet nos salva há alguns anos,
melhorando o acesso à diversidade artística, mesmo que essa facilidade tenha
diminuído muito nos últimos tempos, com o evidente favorecimento dos grandes veículos
de mídia à comunicação do que é comum, popular.
YouTube
Um bom exemplo é o YouTube. O que já foi a melhor plataforma de conteúdo audiovisual, transformou-se em uma insistente manifestação
comercial do mainstream. Você não ouve uma playlist de Heavy Metal sem ser interrompido por comerciais de
artistas sertanejos, numa clara manifestação de desrespeito à audiência. Um vez
que o Google conhece suas
preferências, nada mais justo do que as inserções comerciais acontecerem de
acordo com suas pesquisas, o que, em muitos casos é feito. Porém o poderio
financeiro dos agentes desonestos do mainstream fala mais alto do que a
preferência da audiência. E você vai passar por inúmeros momentos de constrangimento ao que você está consumindo em termos de publicidade, no seu computador, na sua casa, no seu celular.
Audiência Desqualificada.
Tudo isso, no entanto, está ligado diretamente à uma
presença maciça de audiência desqualificada, que aceita e consome somente o que
é oferecido da maneira clássica, através da velha fórmula da Televisão e das rádios
comerciais: repetição constante, a
ausência de qualidade, de pensamento, e de filtros que usuários mais seletivos
possam utilizar.
Não gosta, não usa.
É muito simples, se houvesse uma discussão, qualquer
antagonista responderia: É só parar de usar a plataforma. No entanto, a
centralização de conteúdo, não somente musical, mas cultural, acaba tornando o
cenário com poucas opções. A internet
repete o que a mídia convencional faz. A
solução real talvez seja voltar aos CD’s, DVD’s ou fitas K7.
Cenário Cultural Polarizado
Esse é um cenário que facilita a atual condição do público
brasileiro estar dividido em dois polos ideológicos. Não há consumo saudável de
informações, uma vez que adeptos dos dois lados infestam a rede de informações
nefastas dos seus adversários. A militância atrapalha o consumo cultural, e os
artistas que se assumem de cada lado, reduzem sua produção artística à uma
opinião fajuta sobre qualquer coisa para manter a sua visibilidade.
Arte é maior do que Política.
A arte deve estar acima da política. Se você é um consumidor
consciente de informação e de cultura, sabe que dos dois lados há arte de
verdade, e arte falsa. Dos dois lados desta história estão artistas com
excelentes produções, inteligentes e que sabem da sua maneira defender suas
posições, sem colocar seus princípios pessoais em conflito, pois estão
conscientes que a arte é livre, é para todos, e não aceitam o discurso de que “artista
tem que ser de esquerda” ou que “artista tem que salvar o mundo”. A arte sai de
dentro destas cabeças para todos, para quem quiser ouvir, assistir, ler,
comprar e fazer delas o que bem entender.
Porém, para artistas isentos neste cenário, a formação de
público é muito mais difícil e cara. Se não estiver nos padrões comerciais, o
artista tem que buscar seu público à unha, mesmo na internet. E para estes
casos a busca pelos meios realmente independentes de divulgação é a melhor
solução.
Desejo sorte aos artistas
verdadeiramente independentes, que levam a arte a sério, que exercem sua
cidadania de maneira honesta. E desejo também muito trabalho, que é que nos
espera.
Sejam livres.