Álbum Akakor de Fábio Dominoni traz uma experiência futurista e ancestral ao mesmo tempo




Guitarrista curitibano Fábio Dominoni lança seu segundo álbum inspirado em Akakor,  lenda que conta história de cidade perdida na Amazônia.



O guitarrista Fábio Dominoni sempre foi virtuoso, desde os tempos da nossa antiga banda Crossroads, tocando heavy metal e rock clássico, e perambulando pelas encruzilhadas de Curitiba entre 1993 e 2001. Desde então já despontava com algo que para nós, confesso, era meio estranho, o rock instrumental. A música instrumental sempre esteve nas suas veias e o tornou tecnicamente compulsivo pela perfeição harmônica e com um sentimento musical extraordinário.


Akakor é seu segundo álbum. Tive a honra de ser convidado a fazer uma participação com um poema sobre essa história incrível que se desenrola na Amazônia. Uma daquelas histórias épicas de tirar o fôlego, carregada de sentimentos e emoções e com uma mitologia que desafia crédulos e incrédulos. Akakor é a cidade perdida na Amazônia que  inspirou Dominoni a nos disponibilizar 40 minutos de uma grande experiência sonora catártica.


O que é Akakor ?


Em linhas gerais, um jornalista alemão chamado Karl Brugger, esteve na Amazônia e encontrou um mestiço chamado Tatunka Nara, filho de pai alemão e mãe índia,  chefe de três tribos locais, seu nome alemão é Ghunter Hauck. Brugger gravou uma longa conversa com Nara, e registrou uma das lendas mais incríveis, com todos os elementos que as histórias ancestrais nos proporcionam: deuses que vêm do céu, batalhas épicas, guerreiros valentes, ambição, tristeza, e as lições que a vida até hoje nos ensina de outras maneiras. Segundo Tatunka Nara, Akakor foi uma cidade próspera concebida por deuses de seis dedos e olhos brilhantes, que orientaram as tribos locais e lhes deram conhecimento para sobreviver e prosperar, dando origem às incríveis e sábias civilizações Maia e Inca. O registro deste encontro deu origem à Crônica de Akakor”, livro de Karl Brugger que não foi publicado no Brasil, mas vendeu muito bem nos Estados Unidos e Alemanha. A Crônica de Akakor é dividida em três livros, o Livro do Jaguar, o Livro da Águia e o Livro da Formiga.

Em 1984, Brugger foi assassinado no Rio de Janeiro, o que levantou muitas hipóteses e teorias da Conspiração. Não há muita informação sobre Akakor. Tatunka Nara é uma figura polêmica e divide opiniões sobre a sua identidade (filho de pai Alemão e Índia Brasileira) e atua como guia e mediador na selva (registro de 2014). Sem dúvida é uma história intrigante e inspiradora. No filme “Indiana Jones e a Caveira de Cristal” o arqueólogo visita a Pirâmide de Akakor, porém o nome foi propositalmente modificado na produção de cinema.


Rock Instrumental


A música instrumental nos proporciona uma experiência reflexiva desde os tempos da música Clássica, predominantemente instrumental por essência. Já o Rock Instrumental tem seu embrião nos anos 50, apresentando hits instrumentais na surf music , e trazendo muito conteúdo do R&B, funk e jazz. Em 1969 , a nossa conhecida Fleetwood Mac chegou ao primeiro lugar nas paradas com a música Albatross. Nos anos 70 a banda inglesa The Shadows lançou, a música Apache.

Na década de 80, cresceram os guitarristas solo e passaram a chamar a atenção músicos como o sueco Yngwie Malmsteen , que lançou álbum solo após sair da banda Alcatrazz, sendo substituído por ninguém menos do que Steve Vai. Em 1987 , Joe Satriani chega para se tornar um dos ícones do seguimento, e lançando a belíssima Aways with me, Aways With you. No Brasil, pouco explorado o segmento contava com Pepeu Gomes, que chegou a ser eleito um dos melhores do mundo, e chamava a atenção pela mistura do estilo roqueiro com a música popular brasileira.

Akakor – Por Fábio Dominoni


Uma sonoridade futurista e ao mesmo tempo que lembra a musicalidade ancestral das tribos que povoaram nossas terras. Fábio Dominoni afirma que a “música brasileira é aquela que foi feita pelos índios brasileiros”. Fábio utiliza-se da intrigante história da cidade perdida de Akakor e nos conduz a um cenário muito diferente e uma experiência sonora incrível. Sua produção é ousada. Momentos de extrema tensão harmônica e velocidade combinam-se e enfrentam melodias emocionantes. Destaco duas delas por um envolvimento mais pessoal nas suas histórias.


Mandrágora


Mandrágora remonta ao bom e velho Heavy Metal oitentista. Velocidade e melodia combinadas com um delírio quase espiritual na sua modulação. Mandrágora está na gaveta do Fábio desde o início dos 2000, saiu da gaveta na hora certa. O nome é inspirado na planta Mandragora officinarum L , um arbusto que chega a ser citado na Bíblia, e foi utilizado na prática de bruxaria da era Medieval. Os mitos contam que quem arranca a raiz do solo pode até morrer se não o fizer da maneira correta. Dizem que a planta grita, tal como se viu na franquia de cinema Harry Potter.


Left Behind


Left Behind, (Deixados para trás), é um poema que retrata o saudosismo das palavras de um índio qualquer que viveu durante os fatos contados no Livro do Jaguar. Alguém que presenciou a chegada dos deuses, absorveu seus ensinamentos e que vivia em paz com a natureza, até que algo saiu errado, segue a versão em português:


Deixados para trás ( O livro do Jaguar)

Os navios dourados vieram de Schwerta
Traziam deuses de carne e sangue
Para nos ensinar a viver
Mas nós não podíamos ver seus rituaisj
Nós fomos os escolhidos
E nós acreditamos
Que poderíamos reinar para sempre
Que a Amazônia seria a nossa casa
Ao amanhecer vejo a cabeça do Jaguar
Meu coração está tranquilo
Porque eu acredito nas palavras dos Deuses
Mas ninguém esperava que eles voltassem para Schwerta
Ina presenciou sua partida
Com seus navios dourados sumiram no firmamento
Agora os deuses são só estrelas
E nós ficamos para trás
Fomos os escolhidos
E nós acreditamos
Que viveríamos para sempre
Mas agora estamos sós
Presas fáceis para os bárbaros brancos
Eles são pássaros, parasitas e cavalos
Mas os escolhidos defenderão Akakor
Sob a proteção dos deuses de seis dedos
Eles escolhem quem vive e quem morre na Amazônia
Mas o Jaguar voltou-se contra nós
Sem nenhuma misericórdia para com a nossa ignorância
Os escolhidos perderam a razão
A Era de Sangue chegou a nós
e o Legado sagrado despareceu
Sim, nós éramos os escolhidos
E amávamos akakor
Mas agora nos perdemos
onde estão aqueles deuses de carne e sangue?
Treze luas se passaram
E Madus aparece em sua jangada
Ele só queria voltar para casa
Ele só queria voltar para Akakor
Agora, nós sabemos
Nem todos foram escolhidos
Nem todos acreditaram
Madus foi um dos poucos que sobreviveram
E celebraram em Akakor
O fim dos tempos de sangue...


E se for verdade?


A nossa história é contada de várias maneiras, o nosso conhecimento acerca das várias versões das nossas origens aumenta e se confunde ao mesmo tempo. Temos no álbum Akakor um misto de extraordinário, terror, ficção científica, manipulação de massas, mas principalmente de fé. A fé de quem conta a história é carregada de frustração, saudades, e esperança, como tantas outras histórias de fé que nos são contadas há séculos. A história de Akakor é algo para ficar a seu critério, e que historiadores e arqueólogos, se assim merecerem, descubram a verdade. Enquanto não descobrirem, o mistério é o belo presente que nos resta deste mito.

Akakoré um álbum que traz, além da inovadora e sempre inusitada experiência sonora do rock instrumental de Fábio Dominoni, uma atmosfera de esperança, uma esperança de que toda a história um dia seja contada sem espelhos ou metáforas desnecessárias. Fábio escolheu uma bela maneira de nos contar uma história. Quem sabe a música instrumental não tenha mais a revelar do que imaginamos?



Clique aqui e conheça Akakor, o sensacional álbum de Fábio Dominoni.