Uma "Selfie" Para os Liberais.

De vez em quando a internet me dá a oportunidade de me posicionar em relação ao sistema. Desafiado à reflexão pelo professor Otto Leopoldo Winck, absorvi com prazer a resenha feita no blog MonBlog (de Jorge Nogueira) a respeito do livro Contra-História do Liberalismo, do filósofo italiano Domenico Losurdo. 

Eu mesmo poderia enumerar muitos desmandos do capitalismo e do pensamento liberal.  Mas serei mais contemporâneo, pelos simples motivo de não ter tempo, tampouco acesso à pesquisa histórico-acadêmica como o escritor citado.  

Podemos começar pela dominância dos bancos.  Em mais de 30 anos de aventura democrática e centenas de escândalos de corrupção, eles jamais são incriminados, mesmo sendo o canal irrigador destes esquemas. 


Também posso citar a pirâmide social de consumo, onde a imitação das classes mais pobres os levam à dependência financeira. Televisões de LED, celulares de última geração, consumo de marcas,  as classes mais pobres são levadas ao consumo desenfreado e consequente continuidade no sub-emprego para pagar suas dívidas. Faz parte do "manter os pobres lembrando que o são" como dito no texto de Jorge Nogueira. 

Como artista e  agente cultural independente, não posso deixar de citar a mídia e seu jabá criminoso,  o mainstream, o mais do mesmo e a absurda falta de espaço para os artistas que não estejam engajados nessa roda viciante. Politicamente engajados, inclusive.  A Lei Rouanet é apenas reforço publicitário para grandes empresas se aliarem a nomes já consagrados. Sem mais.

O Capitalismo de Estado também é nocivo. O aparelhamento político das instituições, a proliferação de cargos, a maquiagem na contabilidade, a publicidade bonita aos menos críticos, tudo isso fragiliza a nação.  Os programas sociais surgem, então, como justificativa à corrupção. No final da festa, não será possível continuar com o pão, nem com o circo. 

O capitalismo fez surgir outro grande problema, que no início parecia ser uma solução: os sindicatos. Lutar pelos direitos e por melhores condições de trabalho sempre me pareceu muito nobre. Mas até hoje, enquadrado em três ou quatro categorias durante minha vida útil, posso garantir que em nenhuma ocasião fui atendido de maneira satisfatória, apesar de estar rigorosamente em dia com a contribuição. E basta ver a ação dos maiores e mais famosos sindicatos para ver que as reais intenções são apenas a manutenção de uma relação conturbada entre empresas e trabalhadores, para manter-se "ocupados". Capitalismo puro, e tão selvagem quanto Wall Street.

Outra falange de problemas, com aparência de solução, são os movimentos sociais. Convertidos em moeda de troca política, levam consigo muitos injustiçados à tiracolo, mas seus líderes, à exceção dos mortos, como Chico Mendes ou Irmã Dorothy, estão gozando dos plenos favores das verbas governamentais e do poder a eles conferido, por seus próprios pares. O gosto do poder pode ser bem doce, inclusive para aqueles que pensamos ser heróis. 

O escritor italiano citou mazelas importantes, não sei se chega a mencionar a América, com mais de trinta milhões de nativos mortos no período da Colonização pela Espanha e por Portugal. Mas quem lembra disso?  Eu só ouço falar no Holocausto, que logicamente, foi terrível e bem melhor documentado.  Então para quê lembrar dos latinos, mesmo?  Ninguém liga.  

Se sou liberal ou não, não sei. Defendo o trabalho, a livre iniciativa, as boas ideias, o direito à propriedade, inclusive o direito ao rico de ser rico. Acredito que o negro, a mulher, e o gay são tão bons quanto eu, portanto merecem as mesmas oportunidades.  E sejam felizes ao aproveitá-las. 

E acreditem, há ricos honestos, pobres pilantras e classes médias que não valem nada. Também há negros malandros, gays que deveriam ser presos assim como policiais honestos que cumprem seu dever com retidão. Dentre os poucos índios que nos restam, aceitem, há aqueles que vendem madeira ilegal, e são mulas dos traficantes nas fronteiras latinas. 

A tal "meritocracia" não está presente em nenhum regime dos que me foram apresentados. No capitalismo ela some embaixo do dinheiro, e em outros regimes, é sufocada pela vaidade dos líderes, e pela manipulação ideológica.  Ela é um mito, um fantasma, uma entidade folclórica e caricata. Várias gerações ouviram falar dela e provavelmente outras ouvirão. Se alguém a encontrar, em tempos de "selfie", favor registrar, e compartilhar com todos, liberais, ou não.